quinta-feira, 26 de abril de 2007

AHMAD MUSSAIN E O IMPERADOR

O Imperador Mahmud El-Ghazna passeava um dia com o sábio Ahmad Mussain, que tinha reputação de ler pensamentos. O Imperador, há algum tempo, vinha tentando que o sábio fizesse diante dele uma demonstração de sua capacidade. Como Ahmad se recusava a fazer a sua vontade, Mahmud havia decidido recorrer a um ardil (armadilha) para que o sábio, sem o perceber, exercesse seus extraordinários dotes na sua presença.

Ahmad — chamou o Imperador.

Que desejas, Senhor?

Qual é o ofício do homem que está perto de nós?

É um carpinteiro.

— Como se chama?

— Ahmad, como eu.


Será que comeu alguma coisa doce recentemente?

— Sim, comeu.

Chamaram o homem e ele confirmou tudo o que o sábio havia dito. — Tu — disse o Imperador — te recusaste a fazer uma demonstração dos teus poderes na minha presença. Percebeste que te forcei, sem que o notasses, a demonstrar tua capacidade, e que o povo te transformaria num santo se eu contasse em público as revelações que me fizeste? Como é possível que continues ocultando a tua condição de sufi e pretendas passar por um homem qualquer?

Admito que posso ler pensamentos — concordou Ahmad — mas o povo não percebe quando faço isso. Minha dignidade e meu amor-próprio não me permitem exercer esse dom com propósitos frívolos. Por isso meu segredo continua ignorado.

— Mas admites que agora mesmo acabas de usar teus poderes?

— Não, absolutamente não.

— Então como pudeste responder minhas perguntas acertadamente?


Facilmente, Senhor. Quando me chamaste, esse homem virou a cabeça, o que me indicou que seu nome era igual ao meu. Deduzi que era carpinteiro porque, neste bosque, só dirigia o olhar para árvores aproveitáveis. E sei que acabara de comer alguma coisa doce, porque vi que estava espantando as abelhas que procuravam pousar nos seus lábios.
Lógica, meu Senhor. Nada de dons ocultos ou especiais.

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